Seguindo o exercício de futurologia que fizemos no último post, sobre a série Pico da Neblina, iremos neste texto imaginar outros cenários possíveis após a regulamentação da Cannabis no Brasil. Que produtos a base de Cannabis farão sucesso no nosso país?
Hoje o produto a base de Cannabis mais popular no mundo ainda é o óleo. Com diferentes usos e formulações, é o produto mais versátil e atende o setor medicinal, cosmético e de bem estar. Em países regulamentados, formulações com CBD invadiram farmácias como fármacos para as mais variadas indicações e as lojas gerais com óleos de massagem corporal e íntima e até com versões para uso culinário. Do ponto de vista industrial, o óleo com canabinóides também é matéria prima para a produção de diversos outros produtos como comestíveis.
Mesmo com a atual regulamentação para venda dos medicamentos a base de Cannabis, a exigência de importação da matéria prima impediu que muitos produtos chegassem no nosso mercado. O alto custo não permite que os produtos consigam competir em mercados onde todos os competidores são feitos no país. Não é exagero imaginar que os grandes players irão investir pesado em nacionalizar a produção assim que o cultivo for regulamentado, abaixando o custo e facilitando o aparecimento dos mais variados óleos derivados de Cannabis, com os mais diferentes usos, como vemos lá fora.
Outro fenômeno visto nos países regulamentados foi a explosão dos cosméticos derivados de Cannabis. Diversas marcas de peso aderiram ao canabidiol em suas fórmulas: a Kiehl’s, da L’Oreal; a Tresemmé, da Unilever; e a Avon, da brasileira Natura, com o óleo facial Green Goddess. A loja de departamentos de luxo americana Barneys inaugurou em 2019 a The High End, uma loja dedicada a cosméticos de CBD, e a influencer Kourtney Kardashian fechou uma parceria entre a marca de cosméticos Hora e sua grife Poosh’s para a produção de um sérum facial com infusão de CBD.
Leia mais em nosso post do blog sobre cosméticos!
Estudos científicos indicam que estes derivados da cannabis trazem benefícios para a pele, incluindo ação antioxidante e anti-inflamatória. Isso porque o corpo humano possui um sistema endocanabinoide, que atua regulando o organismo, incluindo a parte cutânea. Os canabinoides, como o CBD, interagem diretamente com este sistema e equilibram as funcionalidades, acalmando e regenerando a pele. O resultado é: prevenção do envelhecimento, hidratação, aumento da firmeza e clareamento de manchas. Já o óleo de semente de cânhamo é usado na medicina chinesa há mais de 3 mil anos. Por ser rico em ômegas 3 e 6, que são ácidos graxos essenciais, ele também tem ação anti-inflamatória, mas age de outra forma na pele, uma vez que constituem ativos super-regeneradores. Desta forma, são elementos perfeitos para a produção de hidratantes, protetores labiais e cremes corporais.
É impossível viajar para países como Holanda, Rep. Tcheca ou alguns estados dos EUA e não dar de cara, logo no aeroporto, com algum comestível a base de Cannabis. Infusões de canabinóides podem ser feitas em chocolates, salgadinhos, bebidas açucaradas ou alcoólicas, balas e pirulitos, para citar apenas alguns. Embora ainda estejam cercados de estigmas, os comestíveis fazem muito sucesso onde quer que sua produção seja regulamentada. As críticas a esses produtos vem do fato de que são altamente atrativos para crianças e adolescentes, o que torna difícil o controle dos pais ao acesso.
Ao mesmo tempo, os comestíveis mostram-se uma opção muito eficaz de administração de doses medicinais de Cannabis. Grupos de voluntários no Canadá estão oferecendo alívio às pessoas que lutam contra o vício doando Cannabis e derivados comestíveis em substituição aos opioides. Os especialistas em vícios, entretanto, temem que o tratamento não comprovado possa evitar que as pessoas com transtorno do uso de opioides busquem terapias baseadas em evidências que tenham se mostrado eficazes. Outro problema que a nossa regulamentação terá que atender será rastrear procedência e dosagem dos canabinóides desses produtos, o que não acontece na maioria dos países lá fora. Na prática, temos que acreditar no fabricante quando ele informa a presença e/ou quantidade de canabinóides em seus produtos.
Papel, fibras, tecidos e, claro, cigarros e flores, também são produtos que irão aparecer aos montes nas prateleiras brasileiras assim que sua produção e comercialização for possível, mas traremos esse assunto no futuro aqui no Blog da TGH.