Um assunto recorrente nas rodas de conversa sobre Cannabis é: Tá, e após a regulamentação, o que muda? Se esse assunto já apareceu nas rodas de conversa que você frequenta, esse texto é para você.
A cena já passou na cabeça de todos nós. No jornal noturno, a manchete: “Cannabis é regulamentada e legalizada no Brasil”. Um clima de euforia toma conta de parte da população. Para outra parte da mesma população, apreensão. O dia seguinte amanhece e o que muda, efetivamente?
Temos o privilégio de termos uma produção audiovisual de primeiríssima qualidade que se propôs a imaginar exatamente esse cenário: Pico da Neblina. Esta série original da HBO Latin America, filmada pela O2 e estrelada por Luis Navarro, Daniel Furlan, Dexter, Henrique Santana, Leilah Moreno, Teca Pereira, Bruno Giordano, William Costa, entre outros, e dirigida por Quico Meirelles, começa exatamente no primeiro dia da legalização. Na ficção, o jovem traficante Biriba (Luis Navarro) enfrenta um dilema: permanecer no mundo do crime ou tentar a sorte na legalidade. Além de passar pelos evidentes problemas que um jovem negro passaria ao tentar empreender em um país racista como o nosso, a série consegue de forma muito eficiente explorar todos os cenários e desafios que a regulamentação trará para a sociedade. Neste texto, tentaremos trazer alguns desses pontos e traçar paralelos com a realidade.
(Este texto contém spoilers da série).
O primeiro, e talvez mais importante ponto que traremos, perpassa a trama central da série. A sociedade brasileira está pronta para integrar neste mercado bilionário as pessoas que foram pioneiras, mesmo na ilegalidade? Biriba é, sem sombra de dúvidas, um especialista em Cannabis. Consegue se destacar entre os vendedores da “biqueira” onde trabalha por ter um método de “limpeza” da Cannabis prensada que retira a maioria das impurezas, mantendo os canabinóides. E o rapaz tem grande habilidade de explicar para os clientes as diferenças e comunicar o valor do produto, ou seja, é um profissional de grande valor para o mercado. Porém, na regulamentação imaginada pela série, a ligação dele com o mercado ilegal acaba sendo um obstáculo no processo de obtenção da licença. Este, com certeza, é um grande desafio que aguarda o processo de regulamentação no Brasil: Criar políticas públicas que integrem os egressos da ilegalidade no mercado legal. No nosso post Construção através do diálogo trazemos um poderoso exemplo, da cidade de NY. Vale a leitura.
Outro importante ponto abordado pela série é como o estado lida com isso. CD (Dexter) é o único dentro da organização criminosa que enxerga as oportunidades que a legalização pode trazer e imagina formas de usá-la para fortalecer o crime organizado. Na segunda temporada, por exemplo, ele usa uma loja legal para acobertar suas atividades, mais uma vez usando as habilidades do Biriba de transformar prensado em ouro. É óbvio que na vida real a mesma coisa irá acontecer, por isso devemos assegurar que a regulamentação traga uma solução de rastreabilidade de toda a cadeia de produção. Uma das startups apoiadas pela TGH, a ADWA Cannabis, está trabalhando nisso e em outras tecnologias essenciais para o desenvolvimento do setor.
O último, mas não menos importante, ponto que traremos é a resposta das grandes corporações à regulamentação. Na série o pai do personagem Vini (Daniel Furlan), rapaz rico e branco que era cliente e torna-se sócio do Biriba, acaba roubando as ideias do filho e fundando um grande império de produtos a base de Cannabis. É importante agirmos para impedir que este mercado caia nas mãos do mesmo padrão de pessoas que têm sido dominante no país e aproveitar esta oportunidade para criar ferramentas de reparação histórica através da Cannabis na sociedade. Este assunto já foi amplamente abordado nos posts Reparação Histórica e ESG na Prática, aqui no Blog da TGH.
E para você que ficou conosco até aqui não deixe de conferir o nosso canal no Youtube onde vários especialistas falam sobre esses assuntos no nosso acervo de conteúdo!
Até a próxima!