Os benefícios que uma eventual (inevitável) regulamentação da Cannabis traria para a sociedade, não apenas no Brasil, são muitos e aqui mesmo no blog da TGH já trouxemos diversos exemplos de aplicações benéficas da planta em diversos segmentos. Porém, as constantes descobertas das aplicações na saúde, realizadas em diversas frentes por pesquisadores no Brasil e no Mundo, são os temas que com mais sucesso fazem o debate sobre a regulamentação avançar.
Desde tratamentos para patologias complexas, resistentes a tratamentos convencionais, até usos preventivos que ajudam a promover saúde e bem-estar, a Cannabis está no centro de uma discussão que promete revolucionar a medicina.
“A maconha medicinal está para o século 21 como o antibiótico para o século 20”, disse o neurocientista Sidarta Ribeiro no podcast Mano a Mano, de Mano Brown, apenas algumas semanas antes da publicação deste texto.
Os antibióticos representaram uma revolução no meio médico-farmacêutico. Seu maior efeito foi a queda drástica na taxa de mortalidade de doenças infecciosas e parasitárias. Antes dela, problemas “simples” como diarreias, pneumonia, tuberculose e meningites eram letais, por isso afirmações como essas vindo de atores respeitáveis da academia brasileira traz esperança e, ao mesmo tempo, expõe as feridas sociais que o proibicionismo causou na sociedade brasileira ao longo de quase um século de existência, entre elas o preconceito e a desinformação.
Mas, afinal, o que faz esta planta tão especial e promissora para a medicina? Os especialistas acreditam que o grande fator de promoção à saúde da Cannabis é a sua relação com o sistema Endocanabinoide. Iremos trazer algumas informações e esperamos ajudar você, estimade leitor, a entender o motivo pelo qual Sidarta e outres pesquisadores dedicam seu tempo e trabalho a trazer estas soluções para nós:
Não deixe também de conferir o papo que tivemos com o Sidarta no nosso Youtube!
A cannabis possui cerca de 400 substâncias químicas diferentes em sua composição, das quais 85 são canabinoides – ou fitocanabinoides no termo científico mais preciso. Dentre os canabinoides, três deles já foram mais pesquisados e, assim, têm suas capacidades terapêuticas mais reconhecidas. São eles: tetrahidrocanabinol (THC), canabidiol (CBD) e canabinol (CBN).
A equipe do Prof. Mechoulam, além de estudar e classificar os diferentes fitocanabinoides desde os anos 60, descobriu que o nosso organismo produz substâncias que interagem com os mesmos receptores dos canabinoides de origem vegetal em nosso cérebro, chamados endocanabinoides. Estas substâncias fazem parte do sistema endocanabinoide, responsável pela homeostase, que nada mais é do que o equilíbrio do ambiente interno corporal. Ele regula, por exemplo, o sono, o apetite e gasto energético, a modulação da neuroplasticidade, os processos inflamatórios e a sinalização da dor. A primeira substância endocanabinoide descoberta recebeu o nome de Anandamida, palavra derivada do sânscrito ‘Ananda’, que significa calma interior, portador de paz ou felicidade interna.
Veja também nossa conversa com o Dr. Raphael Mechoulam sobre a descoberta dos Fitocanabinoides e do sistema Endocanabinoide.
Manter o bom funcionamento do sistema endocanabinoide é muito importante pois ele participa de diversos processos biológicos em nosso organismo, sendo essencial para o equilíbrio fisiológico de nosso corpo e de todos os outros sistemas. Ele está em todo o organismo através dos receptores CB1, com destaque para o hipotálamo (no cérebro) e a amígdala, e com poder de influência sobre a regulação do apetite e o processamento emocional; e CB2 – encontrado nos sistemas nervoso e imunológico, com incidência sobre dor e questões motoras, dentre outras funções do corpo.
Sociedades antigas como os Egípcios e Chineses já entendiam a capacidade reguladora da Cannabis e possuíam cadeias estratégicas de produção das diferentes espécies da planta, que além de entregarem diferentes perfis de canabinoides e terpenos (leia sobre efeito entourage) também constituíam grande parte da produção de outros materiais essenciais para a vida na época como tecidos, papéis, fibras e cordas. Acredita-se que a Cannabis não só era a principal ferramenta de promoção à saúde daquelas pessoas, como também um importante insumo para a sociedade de forma geral.
Abraçar e entender a Cannabis é, acima de tudo, entendermos um pouco mais de nós mesmos, dos nossos corpos e de nossa história.
Obrigado e até o próximo texto aqui no blog da TGH!