A cannabis medicinal já teve sua eficácia comprovada em centenas de estudos ao redor do mundo, deixou de ser ilegal em mais de 50 países e tem toda uma industria crescendo à sua volta. No Brasil, o uso é permitido, desde que cumpram-se as normas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa e, desde 2017, é possível comprar medicamentos à base de canabidiol (CBD) na farmácia – a custos altíssimos, é verdade. Mas, ainda assim, dos 450 mil médicos registrados no país, apenas pouco mais de mil (0,24%) receitam ou já receitaram cannabis para seus pacientes.
Para que os benefícios da planta sejam de fato disseminados e a barreira do preconceito se quebre, precisamos de mais educação.
Não há nos cursos de graduação da área de saúde no Brasil nenhuma disciplina que aborde a cannabis como alternativa terapêutica, ou até mesmo a existência do sistema endocanabinoide, descoberta relevante feita por cientistas há mais de uma década. Tão pouco fala-se da cannabis como ferramenta moduladora desse sistema, cujo papel é fundamental na homeostase do organismo.
Como fazer educação para a cannabis?
Diante desse cenário, empresas e empreendedores interessados em fomentar o segmento têm assumido o papel de educadores e, além de estimular o debate nos meios de comunicação, estão atuando com conscientização dos profissionais da área médica.
A Greencare, por exemplo, farmacêutica que comercializa seus medicamentos sob a marca Hempflex, desenvolveu, em parceria com a Estácio, um curso online com a disciplina “Canabinoides: A nova ferramenta da medicina – das evidências científicas à prática clínica”, abordando questões relacionada à neurologia, neuropediatria, psiquiatria e geriatria. A formação foi realizada em agosto de 2020.
Antes disso, em 2019, o Ministério da Educação já havia recebido um registro de pós-graduação lato sensu sobre o assunto, realizado pela instituição paranaense Centro Universitário Filadélfia – Unifil. São 360 horas e o público alvo é composto de médicos e dentistas. De acordo com o médico urologista, idealizador da formação, César da Câmara Segre, os alunos conhecem as etapas de produção, seleção das plantas, formas de extração e produção dos óleos essenciais, além de embasamento teórico sobre a química dos compostos e sua aplicação prática baseada em estudos científicos já desenvolvidos na área. A primeira turma foi adiada devido à pandemia da COVID 19 e a universidade ainda não divulgou novas datas.
Também em modalidade online, mas com a proposta “autoinstrucional” – na qual o aluno acessa os materiais e realiza as atividades em seu próprio ritmo, sem um tutor – a OnixCann, importadora das marcas Provacan e MGC Pharma, se juntou à Ânima Educação em sua primeira incursão acadêmica, oferecendo dois cursos: “Introdução à medicina canabinoide”, destinado ao público em geral, e “Medicina Canabinoide: Aplicações Clínicas”, voltado a profissionais de saúde. Com duração de 30 horas cada, os cursos abrangem desde a história da planta, até indicações clínicas.
Educando políticos para a cannabis
Outro ponto crucial neste processo é a educação daqueles que estão em posições de poder. Cumprindo este papel no Brasil estão principalmente as associações de pacientes e familiares, como a Abrace Esperança, Cannativa – Associação de Estudos sobre Canabis, Apepi e Cultive – Associação de Cannabis e Saúde, entre outras, que estão cotidianamente nos corredores do Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais, levando informação e fazendo o loby da cannabis.
Mídia e educação para a cannabis
As mídias também são elos dessa corrente educativa. Ao abrir espaços para o debate da cannabis, os meios de comunicação ajudam a disseminar informação segura e quebrar estigmas. Ouvir de um influenciador confiável ou ler em algum veículo de boa reputação, pode ser uma porta de entrada para esse universo. E, uma vez informado, não é preciso mais do que alguma dose de coerência para entender os inúmeros benefícios da cannabis medicinal e perceber que legalizá-la é uma boa ideia.
Educação para a mudança cultural
Da mesma forma que os preconceitos e estereótipos são ensinados de geração para geração, só existe uma forma de derrubá-los e inserir a cannabis na sociedade: educação para as pessoas. Com profissionais e pacientes bem informados, não há força contrária que segure a revolução canábica. Vivemos a hora e a vez da educação para a cannabis.