Já sabemos, levando em consideração o que vemos em outros países, que não só de produtos vive a indústria da Cannabis. Com o avançar da regulamentação é natural que diversas oportunidades de serviços às indústrias e comércios da Cannabis apareçam para solucionar problemas. No texto de hoje apresentaremos algumas empresas que já estão se antecipando a este cenário.
Que o Brasil é uma potência do agronegócio todos sabem, mas é comum imaginar que esta indústria vive apenas das enormes propriedades de cultivo, ignorando toda a gama de serviços que torna as colheitas mais eficientes e abundantes. Grandes cultivos ao ar livre, da forma como imaginamos que a Cannabis e o Cânhamo terão grande penetração no território brasileiro, precisam estar totalmente adaptados com as condições de solo e clima da região. Nosso país se destaca no desenvolvimento de variações genéticas que estão plenamente adaptadas ao nosso clima, tendo como principal motor deste desenvolvimento a Embrapa. É evidente que as espécies de Cannabis que estão sendo cultivadas em larga escala na América do Norte, Europa e Ásia precisarão ser trabalhadas para apresentarem o mesmo nível de produtividade em solo brasileiro, e é aí que entra uma das startups aceleradas pela TGH, a ADWA Cannabis.
A ADWA é uma empresa focada no desenvolvimento de tecnologias para cadeia de produção e processamento de Cannabis com foco na a área de biotecnologia/melhoramento genético e equipamentos/processos e foi constituída na Universidade Federal de Viçosa (UFV), por uma iniciativa de estudantes do curso de Agronomia. Através do trabalho deles já temos em desenvolvimento genéticas especialmente desenvolvidas para o clima e solo brasileiro. Além disso, outras soluções criadas pela equipe da startup para otimizar os processos internos, como um software de gestão do cultivo, já está sendo utilizado pela CBeDifferent, iniciativa fundada por brasileiros em parceria com a Meraki, empresa que atua no Uruguai com o cultivo de Cannabis medicinal e cânhamo industrial.
O Sérgio Rocha, fundador e CEO da ADWA, participou de uma live com o portal Sechat que vale a pena conferir para conhecer um pouco mais deste trabalho incrível feito em Minas Gerais.
Outro grande desafio que a indústria da Cannabis vai encontrar por aqui é o controle de qualidade dos produtos produzidos e comercializados. Geralmente as leis regulamentadoras pelo mundo consideram a quantidade de determinados canabinóides, principalmente o THC, para separar e classificar os diferentes produtos e seus diferentes usos. Nosso órgão regulamentador sanitário, a ANVISA, é reconhecida internacionalmente pela excelência de seus padrões de testes e qualidade exigidos nos produtos comercializados por aqui, e com a Cannabis com certeza não será diferente. Mas hoje nem mesmo ela, quem dirá as empresas interessadas, estão preparadas do ponto de vista de estrutura e equipamentos de laboratório para atender a demanda de testagem e produção GMP destes produtos.
Para quem acompanha a TGH, este assunto não é novidade. No começo de 2020 anunciamos uma parceria com a gigantesca farmacêutica Merck. A gigante alemã não está interessada (por enquanto) em produzir no Brasil, e sim em apoiar a emergente indústria brasileira com todo o expertise de seus profissionais e sua estrutura construída desde a fundação em 1668. A Merck já possui equipamentos e profissionais prontos para atestar a qualidade dos mais diversos produtos, promovendo segurança a nível farmacêutico para as empresas que utilizarem seus serviços de controle de qualidade. Levando em consideração o histórico da ANVISA, eles não irão esperar menos que isso para aprovar os produtos a base de Cannabis no Brasil.
Por último, ainda trazendo um pouco do futurismo da série Pico da Neblina, lembraremos de um serviço que com certeza será indispensável desde o primeiro dia das operações legais da Cannabis no Brasil: Logística e segurança.
Com certeza a regulamentação brasileira virá com fortes exigências quanto a segurança dos cultivos e do transporte da matéria prima e produtos na cadeia de produção e comercialização. Na maioria dos países e estados onde a produção é localizada é exigido que a plantação seja murada, vigiada 24 horas, há limites de distância onde matérias primas com THC podem de deslocar e o padrão de segurança nestes deslocamentos é comparável com o de grandes valores, sendo necessária a contratação de carros-fortes e equipes de segurança pelo receio das autoridades de que estes materiais acabem nas mãos do mercado paralelo. Este já é um desafio hoje para as associações de pacientes, como a ABRACE Esperança, que mesmo sendo associações sem fins lucrativos precisam investir pesado em estrutura e segurança para não terem suas permissões de cultivo questionadas pela justiça.
Citamos apenas 3 de muitos serviços que irão aparecer para solucionar os mais diversos desafios que a indústria irá enfrentar aqui no Brasil. Parafraseando Sidarta Ribeiro, sonharmos com esse futuro nos ajuda e nos prepara para estes desafios, tornando maior a nossa chance de sucesso. Na semana que escrevo esse texto aconteceu o Cannabis Thinking 2022, o maior evento de Cannabis do país, onde centenas de pessoas estiveram em São Paulo debatendo e sonhando esse futuro para que estejamos bem preparados quando ele finalmente chegar.
Nos próximos textos abordaremos alguns assuntos que fora pauta lá, então não deixe de conferir os próximos postos no Blog da TGH. Até lá!