Nesta segunda-feira (16), Fabricio Pamplona, cientista e empreendedor no setor de cannabis, publicou em sua coluna para a revista Trip um estudo que desmitifica a ideia de que o THC (tetrahidrocanabinol) não tem eficácia para a medicina, o que relaciona a substância unicamente ao uso adulto.
Médicos prescritores de cannabis já indicavam o uso de THC, principalmente para pacientes que sofrem com dor ou possuem dor crônica, e apesar dos resultados serem positivos em sua maioria, ainda havia a necessidade de um estudo não só para tornar os tratamentos mais assertivos, mas também para quebrar o preconceito que impede muitas pessoas de terem uma vida sem dor.
Para muitos, a cannabis é vista como uma droga, e não como um fitoterápico que possui ações benéficas ao corpo – ações, inclusive, que são buscados em medicamentos que podem provocar diversos efeitos colaterais. Ou, até mesmo, consideram o CBD (canabidiol) como uma substância eficaz para epilepsia, por exemplo, enquanto o THC seria exclusivo para o uso recreativo, por conta da psicoatividade.
THC é eficiente para pacientes com fibromialgia
Contra essas suposições, uma publicação brasileira de médicos da Universidade Federal de Santa Catarina confirmou com um estudo clínico que extratos de cannabis contendo majoritariamente THC reduzem a dor e melhoram substancialmente a qualidade de vida de pacientes com fibromialgia.
A fibromialgia acomete aproximadamente 5% da população com idades entre 18 e 65 anos em todo o mundo. A maior queixa dessas pessoas são as intensas dores nos músculos e articulações de todo o corpo, mas por conta deste constante desconforto, outros sintomas se tornam comuns: fadiga, insônia, ansiedade, dor de cabeça, entre outros. O reflexo desses problemas atinge diretamente a qualidade de vida do paciente, que, por vezes, abandona o emprego e deixa de lado momentos de lazer por causa da incapacidade física e psicológica.
O estudo sobre fibromialgia vem quebrar vários paradigmas: confirmar que o THC é sim medicinal e, por outro ponto de vista, o estudo utilizou uma preparação “caseira” com a planta toda, produzida em uma associação de pacientes, e foi conduzido no âmbito do Sistema Único de Saúde de um bairro carente de Santa Catarina, que é um estado conservador.
“Um efeito curioso, e típico, da Cannabis é que ela promove o bem-estar. Eu brinco nas minhas palestras que estamos nos deparando com o primeiro remédio que as pessoas de fato gostam de tomar. Isto ocorre porque os canabinoides atuam de maneira global no organismo, não só reduzindo a dor. Semelhante às “endorfinas”, geram prazer, regulam nosso apetite e sono. Então, imaginem o que é, para uma paciente acostumada a conviver todos os dias com dor, depressão e insônia, subitamente não sentir mais dor, dormir melhor e voltar a ter prazer em viver.”
Trecho retirado da coluna de Fabricio Pamplona para revista Trip
A conclusão do estudo indica que os fitocanabinóides podem ser uma terapia de baixo custo e eficiente para reduzir os sintomas e aumentar a qualidade de vida dos pacientes com fibromialgia. Estudos futuros ainda são necessários para avaliar os efeitos a longo prazo, e pesquisas com diferentes variedades de canabinoides devem ser feitos para aumentar o conhecimento da ação da cannabis nessa condição de saúde.
A polêmica sobre o uso medicinal de cannabis está muito viva no Brasil, por conta da iniciativa parlamentar que pretende regulamentar o uso de maneira ampla, incluindo cultivo da planta em solo brasileiro, conhecida como PL 399/15.
Apesar da ferrenha oposição à iniciativa, todo o processo foi marcado por uma discussão multilateral, e que sobretudo respeita a opinião e perspectiva dos maiores interessados (os pacientes) e dos maiores especialistas (médicos e cientistas da área).