A motivação para proibir o uso da cannabis nas sociedades nunca foi levando em conta apenas os aspectos medicinais, e sim uma união entre interesses políticos e sociais. Segundo pesquisadores da área, a história dos EUA e sua luta contra a cannabis segue o mesmo jogo de conveniências.
Proibição da cannabis no EUA
Em 1933, quando a lei seca americana é interrompida, o uso da cannabis passa a ser uma concorrência com a indústria do álcool, provocando uma disputa comercial. Além disso, o uso da cannabis foi associado à cultura mexicana, percepção que incentivou a perseguição aos grupos marginalizados e imigrantes do país vizinho. Nesse momento, o uso da cannabis passou a sofrer por pressão cultural, ser alvo de filmes, livros e reportagens que associavam os efeitos da planta à insanidade mental e violência.
Reefer Madness, também conhecido como Tell Your Children, é um filme de campanha estadunidense, montado em 1936 para exibição nas escolas. O filme é utilizado contra o uso da cannabis, reforçando a relação da planta com atitudes de loucura e violência.
Em 1937 é promulgada a lei de imposto sobre a cannabis, que tinha o objetivo de proibir o uso adulto mas manter o uso medicinal. Na prática, a lei americana inviabilizou a prescrição médica de cannabis. Após quatro anos, a planta foi retirada da farmacopeia americana.
A cannabis e a guerra
O cenário predominantemente negativo acerca da cannabis começou a se modificar em 1942, quando, com a segunda guerra mundial em atividade, os EUA se posicionaram a favor da planta e do seu plantio, inclusive com incentivo pelo departamento de agricultura americano. Desta vez, um vídeo educativo com uma intenção contrária a do “Reefer Madness” foi desenvolvido.
“Hemp For Victory”, em português “cânhamo pela vitória”, foi criado para fomentar o uso das fibras da planta para a produção de utensílios para a guerra, como fardas, sapatos e paraquedas. Agora, mesmo que a ação fizesse aumentar o uso adulto, o fazendeiro que plantasse cannabis, junto com sua família, estariam isentos da possibilidade de servir ao país na guerra.
Pesquisas científicas sobre o uso da cannabis
Enquanto, em 1961, a Organização das Nações Unidas (ONU) inclui a cannabis em suas ações contra as drogas, um grupo de pesquisadores na Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, testava a cannabis e suas possibilidades de utilização medicinal. Os resultados positivos incentivaram pesquisadores de outros países a buscarem mais respostas para a planta.
Foi o caso do Brasil, que em 1980, em um estudo sobre a utilização de canabidiol como medicação adjunta ao tratamento de epilepsia refratária, descortinou como o canabidiol, em associação com a medicação do paciente, auxilia no controle das crises epilépticas. Após 14 anos deste estudo, um grupo de pesquisa de St Louis descobriu um receptor exclusivo para canabinoides e, 2 anos depois, é desvendado o sistema endocanabinoide e o primeiro canabinoide produzido pelo próprio corpo, a Anandamida.
Com o tempo, a novidade conduziu o uso medicinal da cannabis ao cenário que temos hoje. Ainda há muito para progredir, seja em relação aos estudos científicos ou ao preconceito que a história construiu sobre a planta, mas a informação e a ciência são grandes responsáveis pelos avanços já ocorridos e pelos que estão por vir.