Recentemente, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o mais representativo estudo para avaliar os efeitos da cannabis aos transtornos do humor. A proposta é compreender o “impacto do óleo integral de Cannabis na saúde mental de profissionais da linha de frente no combate a COVID-19”, como indica o título da pesquisa, e envolverá 300 voluntários, entre médicos e enfermeiros que estão diretamente envolvidos no atendimento de casos suspeitos e confirmados do novo coronavírus.
Agora, por que uma notícia como esta deve ser comemorada?
Legalmente, a ciência brasileira não barra pesquisas envolvendo substâncias ou plantas ilícitas, no entanto, há uma série de procedimentos de autorização que envolvem custos e burocracias que, indiretamente, impedem que diversas pesquisas possam ser realizadas. Atualmente, a legislação obriga que a ANVISA trate instituições públicas de pesquisa da mesma forma que é tratada a indústria farmacêutica, cobrando determinadas taxas para obter autorizações legais. O Brasil está carente de incentivo à pesquisa científica de modo geral, mas nesta área há uma grande oportunidade sendo desperdiçada, levando em conta o potencial agrícola e as condições climáticas do país, o que nos permitiria fornecer matéria-prima para laboratórios farmacêuticos em grandes quantidades.
Além disso, é impossível negar que o uso medicinal de cannabis no Brasil já é uma realidade. Segundo a BBC, mais de 78 mil unidades de produtos à base da planta foram importados pelo país desde que a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou o uso terapêutico de canabidiol (CBD) em janeiro de 2015. Seus benefícios reconhecidos possibilitaram a abertura das portas para a importação. Outra referência importante é a chegada do primeiro produto à base de cannabis às farmácias brasileiras. Marcos que só foram assegurados por conta do desenvolvimento de pesquisas e comprovações científicas.
Em 2018, pesquisadores da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, descobriram que a cannabis medicinal proporciona alívio imediato de sintomas de uma ampla variedade de enfermidades. De acordo com os professores que conduziram a pesquisa, Jacob Miguel Vigil e Sarah See Stith, segundo a Galileu, o uso difundido da cannabis como auxílio para dormir e para o tratamento de inúmeros sintomas de saúde é apenas mais um sinal da importância de mais pesquisas sobre o risco-benefício e a eficácia da cannabis como terapia alternativa substituta de outras substâncias.
“O impacto econômico do tratamento com cannabis também deve ser considerado, levando em conta o ônus dos opioides e de outras prescrições de alto risco nos sistemas de saúde, que foram forçados a implementar modificações nas práticas gerais de atendimento ao paciente, incluindo programas de monitoramento de prescrição”, disse Stith para Galileu.
Além da capacidade de mercado, é essencial lembrar das pesquisas científicas como um fomento à inúmeros âmbitos sociais, como saúde e educação. Ainda há muito para progredir, seja em relação aos estudos científicos ou ao preconceito que a história construiu sobre a planta, mas a informação e a ciência são grandes responsáveis pelos avanços já ocorridos e pelos que estão por vir.