Desinformação. Este é o grande entrave para o uso da cannabis medicinal. No Brasil, o tema tem sido discutido com mais frequência na última década, mas o conhecimento ainda está restrito a grupos específicos, como pacientes que precisam dos medicamentos e seus familiares, pesquisadores, alguns poucos políticos sensibilizados e outras pessoas que, de alguma forma, estão no ecossistema – a informação não está saindo da bolha.
Prova disso é a pesquisa realizada recentemente pelo CIVI-CO, polo de negócios de impacto cívico-sócio-ambiental, sediado em São Paulo, com colaboração da The Green Hub, que mostrou o apoio de 70% da população brasileira para o uso medicinal da cannabis. Porém, 59% ainda não conhecem as patologias para as quais é possível aplicar a medicina canabinóide. O levantamento ouviu mil pessoas, englobando todas as regiões do País, por meio de painel online.
Outro ponto importante identificado no levantamento é que apenas 47% dos respondentes estão muito abertos aos tratamentos, caso recebam indicação médica. Já 30% consideram baixa a probabilidade de adesão às terapias.
O desconhecimento sobre as indicações impacta o comportamento. De acordo com os dados, apenas 14% da amostra sabia que os médicos podem prescrever fármacos à base de cannabis, atividade permitida desde 2015, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 3, reconhecendo as propriedades medicinais do canabidiol (CBD).
Desinformação é um dos principais obstáculos para a prescrição da Cannabis medicinal
Não é apenas entre a população em geral que existe essa atmosfera de desinformação. Há muitos médicos que não têm conhecimento e, consequentemente, não são prescritores. Um retrato desta realidade é a história do médico hematologista mineiro Cristiano Fernandes, responsável pelo tratamento de pacientes com cânceres de sangue, como leucemias e linfomas, no Centro de Combate ao Câncer em São Paulo.
Recentemente, ele concedeu entrevista ao portal Cannabis & Saúde, relatando sua experiência com a cannabis medicinal. O curioso é que, apesar dos muitos anos de experiência, apenas em 2018 o médico se aprofundou no tema, passando a receitar a cannabis para atenuar sintomas do câncer e efeitos colaterais do tratamento, incluindo dores, náuseas e vômitos, perda de apetite e bem-estar em geral.
Na entrevista, o hematologista destaca que a informação está acessível para todos. “Hoje não tem mais desculpa para não conhecer as coisas. A internet é a janela do mundo”, diz.
Quando decidiu se informar, Cristiano não teve dificuldades e se deparou com ampla lista de estudos clínicos. Procurou revistas científicas como a The New England Journal of Medicine e encontrou um artigo com duplo cego randomizado (método de pesquisa onde nem o paciente e nem o examinador sabem quem está recebendo a medicação e quem está recebendo o placebo) sobre epilepsia refratária tratada com Cannabis com sucesso. Com mais informação, viu as patologias passíveis de tratamento, conheceu as pesquisas de Elisaldo Carlini, brasileiro pioneiro no tema, e as de Raphael Mechoulam, em Israel. Foi fácil comprovar a quantidade e a qualidade dos dados.
Menos informação é igual a mais preconceito
Outra entrevista interessante foi concedida pelo também médico, Drauzio Varella, em 2019, para o site O Globo. Ele havia acabado de lançar a série de vídeos “Dichavando”, em que aborda a cannabis sob diversos aspectos.
Na conversa, ele traz mais um olhar importante sobre o impacto da desinformação, correlacionando com a questão do tabagismo. Ele aponta que a proibição afasta a sociedade do debate: “essa ignorância que existe em relação à maconha é fruto da proibição. Mas em relação ao cigarro, é diferente. Houve uma combinação do complexo industrial, que impediu que as informações sobre os malefícios do cigarro fossem conhecidas pela população. Uma estratégia de impedir a circulação de informações, usando o poder econômico, porque eles dominavam os meios de comunicação. A publicidade apresentava o tabaco como algo maravilhoso, moderno. Em relação à maconha, é outra história. As pessoas não têm o conhecimento porque não é discutido”, explica.
Como a desinformação afeta o Poder econômico
E se o assunto é influência financeira, o relato de Robert Hoban na revista Forbes, sobre a situação vivida pela renomada Dra. Uma Dhanabalan, especialista em medicina canabinóide com vasto currículo na área, é o exemplo mais surreal possível. Ela teve a renovação do seguro de sua clínica negada porque “suas operações incluem medicina canabinóide”. A informação é pública e não deveria ser um problema, especialmente em um país como os Estados Unidos, onde a cannabis medicinal já está legalizada em 37 estados. Mas a razão se resume no tema deste texto: desinformação.
Cannabis Medicinal já é um caminho sem volta no Brasil
Tem paciente sem se beneficiar porque não sabe, médico não prescritor porque não sabe e muita gente segue achando que cannabis é um problema para a sociedade porque não sabe. Não sabem os benefícios da planta, não sabem onde buscar informações seguras e não sabem diferenciar conhecimento e preconceito.
A desinformação sobre cannabis não tem lado positivo. Então, se você chegou até aqui, passe informações para a frente. Com certeza, mal não vai fazer.
Quer saber mais?
Entendemos que esse assunto é complexo e não pretendemos esgotá-lo em um post. Para saber mais, acesse o nosso artigo: 9 mitos sobre a Cannabis medicinal.